Artigo: Profissão Fanzineiro

Helio - fanzine Mundo NerdMesmo não conhecido em sua cidade natal, Rio Preto, o editor de quadrinhos independentes José Salles, 44 anos, tem renome no mundo dos quadrinhos nacionais.

Ele é um dos fanzineiros mais conhecidos do país, principalmente depois de fundar a “Júpiter 2”, editora de quadrinhos que preza pelo “mercado fora do mercado”. Aliás, as capas de fanzines que ilustram esta página são da editora de Salles.

Segundo o responsável, já são mais de  15 mil exemplares impressos e circulando desde que criou a editora, em 2006. “Fui fanzineiro desde 1996. Depois de 10 anos, resolvi fazer a cooperativa”, conta.

Hoje, com dois Prêmios Angelo Agostini em mãos, a cooperativa não só tem histórias de Salles, que só escreve, mas tem também cerca de 20 outros profissionais.

Nascido em terras rio-pretenses, o editor foi novo a Jaú, mas sempre voltava nas férias para a cidade. “Nunca perdi o contato. Tenho parentes por aí”, conta.

Aliás, foi em Rio Preto que a febre em quadrinhos começou, onde comprava gibis na banca ao lado da Basílica, que existe até hoje. “Comprava clássicos dos super-heróis Marvel e DC, principalmente os do Batman.

Na nova cidade, Salles é um dos maiores incentivadores da  arte. Ele foi o organizador do 1º Dia do Gibi Grátis, no qual se juntou com amigos e doou gibis clássicos em um bairro carente de Jaú. “Doamos 1,2 mil gibis em quatro horas”, e ainda ressalta a importância de incentivar a produção de fanzine. “Precisamos fazer isso para manter viva a leitura do quadrinhos nas crianças”.

Herói dos anos de 1960 é o carro-chefe

O personagem que José Salles gosta de escrever é sobre Raio Negro, herói criado em 1965 pelo brasileiro Gedeone Malagola. Com autorização da família do autor, o rio-pretense vende revistas de 28 páginas dele e outros personagens por R$ 3. “Queremos re-popularizar os quadrinhos, estão caros demais.” Para ele, ir para uma editora seria só se fosse um projeto que o agradasse realmente. “Prefiro que alguém invista em meu projeto.

Apesar de poucos, desenhistas de Rio Preto ainda incentivam a produção de HQs com coletânea de artista e encontros para quem quer aprender a fazer

A história do fanzineiro rio-pretense  que virou editor em Jaú pode não ser isolada. Seguindo os passos da história na página anterior, o BOM DIA mostra que o movimento fanzineiro pode estar até em baixa em Rio Preto, mas há quem lute para mantê-lo funcionando.

O principal nome é Marcelo Kojina, 27 anos, que além de ex-fanzineiro, dá aulas de mangá e encontros no Sesc Rio Preto para jovens que se interessem em fazer fanzines e aprender a desenhar.

A primeira coisa que ele explica é que fanzine deriva de “fanatic-magazine” (revistas feitas por fãs). “Um fanzine não precisa ser necessariamente sobre quadrinhos. Conheço pessoas que faziam até sem desenhos, só com poemas”, explica o agora professor.

Os encontros de jovens são realizados quinzenalmente aos sábados, desde o mês passado. Ele fala que alguns sabem desenhar, outros fazem arte final e roteiros. “O que fazemos é detectar as habilidades de cada um e instruir onde se encaixam melhor”, afirma.

O projeto final é produzir um fanzine contendo histórias de todos os envolvidos. “Não é um curso. E acho que é um tipo de arte que vale a pena, para quem quer criar histórias e personagens”, diz.

Outro caso é Apolo César Domingos Côrrea, 24, ex-dono de uma loja de cultura japonesa em Rio Preto. Em sua época de proprietário, deixava disponível na loja edições dos quadrinhos feitas pelos amantes de mangá, além de patrocinar um desses fanzines. Hoje, ainda vê formas de manter vivo o fanzine em Rio Preto. “Conversei com Hélio (Kaname, leia matéria ao lado). Ele é um dos únicos que produzem em Rio Preto. Estamos levantando um projeto de uma revista que reúna vários artistas”, afirma Apolo.

Para ele, a revista, em forma de coletânea, facilitaria a volta do estilo na cidade. “Isso diminuiria os custos de impressão para todos os envolvidos que tenham vontade de ter uma revista, caso a gente não consiga patrocínio”, conta.

Desenhista produz mangá e mantém viva a arte do fanzine em Rio Preto

Entre os rio-pretenses que ainda fazem quadrinhos na cidade, um dos destaques é Hélio Kaname, 23 anos. Ele tem a revista “Mundo Nerd” na sua segunda edição e produz fanzines desde a adolescência. Kaname conta que muitos desistiram de continuar a fazer. “Amigos meus eram fanzineiros, mas foram ficando pelo caminho”, afirma. “Eu ainda fiquei por que o fanzineiro tem que conquistar a pessoa para ela poder comprar, e sou o mais cara de pau e  atirado”, ri. Os desenhos desta página foram feitos por Kaname.

Se for seguir os números de suas vendas, ele é mesmo. Cada quadrinho produzido, ele faz uma tiragem de 80 edições e vai vender em encontros de animês que ocorrem de seis em seis meses na cidade. “Peço depois duas ou três re-impressões. Sempre esgota”, diz.

Para resolver esse “problema” de demanda, na próxima edição, Hélio começará a ter, na terceira edição, 100 impressões. “Cada vez está ficando maior tudo isso”, afirma o artista.

Uma coisa que anima o desenhista é o reconhecimento. “As pessoas perguntam quando vai sair novos números. Isso me incentiva a continuar”, conta, lembrando que alugou um apartamento para morar sozinho e, atualmente, não é fácil manter as contas e seguir publicando. “Tem que gostar muito do que faz.” Porém, tudo é mais prazer que lucro. “Imprimo em gráfica e cobro R$ 1. Não faço para ganhar nada, faço por amor”, encerra.

Visto no site Rede Bom Dia.